CPPANTANAL
O Pantanal frente o aquecimento global e políticas públicas para conservação e restauração de áreas úmidas são destaques no V CONBRAU
O Pantanal foi destaque na programação do segundo dia do V Congresso Brasileiro de Áreas Úmidas (V CONBRAU), realizado entre os dias 16 e 18 de outubro, em Cuiabá, no Instituto Nacional de Pesquisa do Pantanal (INPP). A maior Área Úmida continental do planeta esteve em debate em duas mesas redondas.
Na mesa redonda "Áreas Úmidas e o Aquecimento Global - Perspectivas Científicas", o Pantanal foi tema da palestra "Eventos extremos como catalizadores de mudanças sócio-ecológicas transformativas no Pantanal", onde o Prof. Dr. em Ecologia e Recursos Naturais da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Fábio de Oliveira Roque, apontou como os incêndios que atingiram a região no ano de 2020 foram catalisadores para um crescente interesse em pesquisas sobre o bioma e desenvolvimento de ações que visem a preservação do Pantanal. "Os incêndios devastadores tiveram ao menos um lado positivo, que foi o crescimento do interesse científico sobre o Pantanal, entre outras ações envolvendo o bioma", disse o pesquisador.
O Pantanal também esteve em debate na palestra "Fogo em Áreas Úmidas da América do Sul", do Prof. Dr. em Biologia Vegetal, Geraldo Damasceno Jr, também da UFMS. Ele explica que o fogo, de forma controlada, contribui para evolução das espécies vegetais nativas do Pantanal. "Nós temos áreas úmidas que são dependentes do fogo, como o Pantanal, por exemplo, que precisa do fogo para continuar como é. A vegetação ali presente evolui e é um sistema que tem várias espécies que são tolerantes ao fogo. Já outras áreas, como na Amazônia, não são tolerantes. Quando o fogo passa por ali é um estrago muito grande. Então nós temos dois extremos de tipos de áreas úmidas (Pantanal e Amazônia) que têm sensibilidades diferentes ao fogo".
O pesquisador explica que embora o fogo seja algo natural no Pantanal, surgindo até mesmo por meio de raios e outros fenômenos naturais, o problema, atualmente, é que 95% do fogo presente na área é provocado por ação humana. "O problema é que a gente está vivendo um uma situação de uma mudança climática extrema. O Pantanal está em um ciclo de seca e nós estamos vivendo esses extremos de calor, ondas de calor muito forte, as chuvas diminuíram bastante. Então existe muita biomassa acumulada nas áreas, falta de chuva e o Pantanal não inunda”.
O professor explica que no Pantanal, as áreas que mais alagam são justamente as que mais queimam. "As áreas que mais alagam produzem muita biomassa e a tendência, quando se tem uma situação extrema de estiagem, expõe toda essa biomassa, então um evento de fogo vai se alastrar. Então, tem muito combustível para queimar".
O Prof. Dr. Geraldo Damasceno Jr aponta que o Pantanal pode se recuperar, mesmo com todo o incêndio que atingiu a área nos últimos anos, desde que volte a receber o volume de água esperado na época das cheias. "Se não pulsar, se não tiver a inundação, então é outra coisa, estamos falando de um sistema que vai deixar de ser área úmida.”
Já a mesa redonda "Políticas Públicas para conservação e restauração de Áreas Úmidas: Implicações para atenuação dos efeitos das mudanças do clima" trouxe projetos e ações que estão em andamento buscando mitigar os efeitos das mudanças climáticas nas áreas úmidas, especialmente no Pantanal. Na palestra "Pacto pela restauração do Pantanal", a Profa. Dra. em Ecologia e Recursos Naturais, Solange Ikeda Castrillon, da Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT), falou sobre o projeto de restaurar áreas do Pantanal degradadas na região de Cáceres, com a meta de plantar 100 mil mudas de espécies nativas até o ano de 2030.
"Nós estamos passando por um momento de escassez hídrica, ligada à questão das mudanças climáticas. Estamos com menos chuvas, está mais seco, e nós degradamos grande parte das águas que abastecem o Pantanal. Águas que nascem no planalto - que forma o arco da planície do Pantanal - cujas nascentes foram degradadas por vários fatores como desmatamento, dragagem de áreas úmidas e rios, instalações de hidrelétricas, entre outros. Isso reduziu drasticamente a porcentagem de área úmida do sistema. Em 35 anos, entre 1988 e 2023, o Pantanal perdeu 38% de sua área alagável. Já o rio Paraguai (principal rio do Pantanal), nós perdemos 60% da superfície de água", aponta a pesquisadora.
A professora explica que o Pacto pela Restauração objetiva envolver todos os atores governamentais, organizações e sociedade para restauração e proteção do Pantanal. É um sistema que tem muito de desconhecido que já estamos perdendo pela degradação. Então, dentro do Pacto, nós estamos aprendendo como vamos fazer esse trabalho de restauração. O próprio Pantanal quem vai nos ensinar", concluiu.
Personalidades receberam o Prêmio Pantanal de Ciência e Tecnologia
Durante o V Congresso Brasileiro de Áreas Úmidas, promovido pelo Instituto Nacional de Pesquisa do Pantanal (INPP), em parceria com o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Áreas Úmidas (INCT-INAU) e o Centro de Pesquisa Pantanal (CPP), foi realizada a entrega de premiação para personalidades que contribuíram com o desenvolvimento e o avanço da pesquisa.
A diretoria executiva do Centro de Pesquisa do Pantanal, instituiu o “Prêmio Pantanal de Ciência e Tecnologia” com o objetivo de homenagear pessoas físicas e jurídicas em reconhecimento ao trabalho de produção de conhecimentos e a formação de recursos humanos para subsidiar políticas públicas voltadas ao uso sustentável de Áreas Úmidas, com enfoque prioritário no Pantanal.
A Diretora do CPP, Rose Soares, entregou o prêmio ao Diretor do INPP, Prof. Dr. Paulo Teixeira de Sousa Jr. Ao receber a homenagem ele declarou: “Divido este prêmio com todos que fizeram parte desta jornada ao longo desses anos”.
O Diretor também recebeu homenagens em vídeo do ex-reitor da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), ex-Secretário de Ensino Superior do MEC e ex-Secretário Geral da Organização dos Estados Iberoamericanos (OEI), Prof. Dr. Paulo Speller, que enalteceu o trabalho de Paulo Teixeira, por muito contribuir para o avanço da pesquisa e para o estabelecimento do INPP em Mato Grosso. Os pesquisadores Fernando André, ex-diretor do CNPq, e JochenSchongart, do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (INPA) também destacaram os serviços prestados pelo Prof. Paulo Teixeira como pesquisador e gestor do INPP e o trabalho fundamental que o Instituto desenvolve.
Outro homenageado foi o professor Wolfgang J. Junk, que foi representado pela Profª. Drª. Cátia Nunes da Cunha, que destacou a honraria concedida a ele, o trabalho e a dedicação do Prof. Junk e o seu olhar para as Áreas Úmidas.
Uma homenagem póstuma foi dedicada à Drª. Emiko Kawakami de Resende, que trabalhou incansavelmente na defesa do Pantanal. Na ocasião, a honraria foi recebida pelo Prof. Dr. Geraldo Damasceno Jr, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). A professora e pesquisadora, Sandra Santos, também prestou uma homenagem à Drª. Emiko por meio de vídeo.
Os depoimentos de todos os pesquisadores que prestaram homenagens, foram gravados e fizeram parte de um vídeo especial, apresentado durante o V CONBRAU.
Inventário das Áreas Úmidas Brasileiras mostra a riqueza e a diversidade dos ecossistemas brasileiros
A obra é resultado do trabalho de 95 pesquisadores e serve de guia para elaboração de políticas públicas para conservação.
Inventário das Áreas Úmidas Brasileiras: Distribuição, ecologia, manejo, ameaças e lacunas de conhecimento
O e-book "Inventário das Áreas Úmidas Brasileiras: Distribuição, ecologia, manejo, ameaças e lacunas de conhecimento" já está disponível para cientistas, pesquisadores, estudantes e o público em geral. A obra foi lançada no último dia 16 de outubro, no Instituto Nacional de Pesquisa do Pantanal (INPP), durante a realização do V Congresso Brasileiro de Áreas Úmidas (V CONBRAU).
Projeto do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Áreas Úmidas (INCT-INAU), o livro é fruto do trabalho de 95 pesquisadores de diversas regiões do Brasil, e reúne uma ampla classificação e mapeamento das Áreas Úmidas do país, com informações sobre ecologia, ameaças, desafios para manejo, entre outros.
Segundo a Profa. Dra. Cátia Nunes da Cunha, uma das organizadoras da obra, o Inventário oferece um conhecimento essencial para pesquisadores, gestores e tomadores de decisão, quanto a “esse ecossistema vital para manter nossa vida, nossa economia e nossa biodiversidade", como ressalta a ecóloga.
Cátia também destaca que o esforço colaborativo em torno do Inventário trouxe à luz diversas tipologias de Áreas Úmidas que, até então, eram pouco conhecidas ou mal documentadas, representando um avanço significativo no conhecimento científico. Além de descrever essas tipologias, o livro elenca os principais problemas enfrentados por cada uma, destacando as lacunas de conhecimento e as necessidades urgentes de ação para sua proteção, tendo em vista que “protegendo as áreas úmidas, estamos protegendo nossos recursos hídricos", explica a professora.
Durante o primeiro dia do V CONBRAU, inúmeros pesquisadores que participaram da elaboração do e-book, proferiram palestras apresentando as pesquisas e estudos que integram o Inventário. O cientista florestal Jochen Schongart, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (INPA) há 26 anos, explica a importância da obra para conhecimento dos ecossistemas e o desenvolvimento de políticas públicas específicas e adequadas a cada ambiente.
"A Amazônia, com sua vasta dimensão continental, abriga a maior parte das Áreas Úmidas que temos no Brasil. No total, 2,3 milhões de quilômetros quadrados da Bacia Amazônica (que integra outros países, além do Brasil) são considerados Áreas Úmidas, que têm uma variação enorme na sua formação, com diferenças na qualidade do solo, com ambientes muito ricos e outros muito pobres em nutrientes. E cada um desses ecossistemas necessita uma dedicação mais sofisticada em classificar e pensar as políticas públicas para conservação. Esse conhecimento específico, presente no Inventário, permite desenvolver uma gestão ambiental focada na conservação e no manejo dos recursos naturais, e elaborar uma legislação específica em nível desses macrohabitats, que gera uma política pública muito mais efetiva de conservação", explica Jochen.
A pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP), Yara Schaeffer Novelli, que é mestre em Oceanografia e doutora em Zoologia, aponta que o inventário mostra a riqueza da biodiversidade brasileira. Seus estudos, por exemplo, integram dois capítulos da obra, abordando as Áreas Úmidas do sistema costeiro-marinho brasileiro. "Nós temos praias arenosas, praias lamosas, costões rochosos, dunas. O próprio manguezal, que tem vários tipos. Temos recifes de coral, recifes de arenito, de poliquetas, de alga de calcária. Nosso sistema costeiro é uma variedade incrível", afirma.
O "Inventário das Áreas Úmidas Brasileiras: Distribuição, ecologia, manejo, ameaças e lacunas de conhecimento" está disponível para acesso neste link e/ou no portal do INAU.
Áreas Úmidas e o Aquecimento Global: Pesquisador aponta que muitos organismos estão desenvolvendo estratégias para se adaptarem às mudanças climáticas
Coordenador Científico do V CONBRAU destaca palestras e Inventário das Áreas Úmidas Brasileiras
O V Congresso Brasileiro de Áreas Úmidas, que será realizado no período de 16 e 18 de outubro, no auditório do Instituto Nacional de Pesquisa do Pantanal (INPP), no Campus da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) com a temática: O Destino das Áreas Úmidas no Antropoceno: Impactos Humanos em Tempos de Crise Climática, tem como um dos destaques da sua programação, o lançamento do ebook ‘Inventário das Áreas Úmidas Brasileiras: Distribuição, ecologia, manejo, ameaças e lacunas de conhecimento.
O Coordenador da Comissão Científica do V CONBRAU, professor Pierre Girard informou que além do inventário, a palestra magna a ser ministrada pelo professor Karl M. Wantzen, intitulada ‘Guardiões da Água: as áreas úmidas precisam de um uso respeitoso’, dará um escopo geral no contexto científico para os tomadores de decisão.
Pierre explicou que o inventário no ponto de vista científico, apresenta como interface entre a ciência e o manejo. Foi desenvolvida uma abordagem para classificar todas as áreas úmidas, em seguida, elaborado o Inventário com a participação de pessoas que trabalham na Amazônia, Roraima, Minas Gerais, Paraná, São Paulo, Brasília e outras regiões brasileiras.
O e-book conta com 17 capítulos e mais de 600 páginas. É o resultado do trabalho de 95 pesquisadores de diversas regiões do Brasil, uma ampla classificação e mapeamento das áreas, com dados sobre sua ecologia, ameaças e os desafios para seu manejo. Será uma ferramenta importante para a definição de políticas públicas, legislação e o manejo correto das áreas úmidas brasileiras.
As mesas redondas, segundo ele, foram montadas com temas e conteúdos relacionados a obra, para que as pessoas pudessem se manifestar, lembrando que alguns dos palestrantes são os autores de capítulos. “A primeira mesa: Inventário fundamental para a gestão de crise climática, e a segunda: Distribuição, ecologia, manejo, ameaças e lacunas de conhecimento, são temas contidos na obra”, apontou
As oficinas se estendem a pessoas que trabalham com o meio ambiente, que querem mostrar para a comunidade cientifica, em sessões de apresentação, os trabalhos de pesquisa aceitos para categorias através de pôsteres ou oral. “Teremos uma oficina sobre a degradação do Pantanal e outra referente a nova lei sobre mudanças climáticas”, disse o professor, se referindo ao uso da Lei 14.904 de junho deste ano, que estabelece as diretrizes para a elaboração de planos de adaptação a mudança do clima, para favorecer a conservação do Pantanal.
Os cientistas trabalham com as pesquisas no Pantanal, a maior área úmida do Planeta. Ele explicou ainda que o ciclo de seca, os incêndios, como também as atividades dos empreendimentos com as barragens, vem agravando a cada ano, e se continuar esta situação, além da drenagem e a dragagem nos rios, podem contribuir com a mudança no Pantanal, na Amazônia e em outros biomas.
“O V CONBRAU tem este objetivo de reunir e permitir a discussão e a comunicação cientifica entre as pessoas interessadas em Áreas Úmidas. Teremos um documento final com várias recomendações dos cientistas para a criação de uma nova legislação relacionadas as mudanças climáticas”, concluiu o coordenador da Comissão Científica do Congresso.
Inventário das Áreas Úmidas Brasileiras será lançado em Cuiabá durante congresso sobre o tema
O Inventário das Áreas Úmidas Brasileiras será lançado em Cuiabá durante o V Congresso Brasileiro de Áreas Úmidas
Plano Científico do INPP será realinhado no V Congresso Brasileiro de Áreas Úmidas
Criado pelo Instituto Nacional de Pesquisa do Pantanal em 2008, o Plano Científico necessita de novas atualizações que serão discutidas no Congresso.
Conhecimento integrado para a sustentabilidade das Áreas Úmidas
Abordagem integrada para o CPP uso sustentável de áreas úmidas
V Congresso Brasileiro de Áreas Úmidas
V Congresso Brasileiro de Áreas Úmidas reunirá comunidade científica e tomadores de decisão em Cuiabá.